Na manhã desta sexta feira cá estava eu aqui na internet lendo um artigo que me foi recomendado. Nas entrelinhas daquele texto que não se tratava sobre carros uma publicidade me chamou muito a atenção e, lendo somente o seu título, já sabia que replicaria aqui. Um dos motivos é por ser algo bastante diferente e praticamente inusitado (eu só havia falado algo sobre motos aqui em uma ocasião e já faz tempo) e outro é o fato de atrelar as duas rodas com o conjunto mecânico Volkswagen refrigerado a ar.
A matéria que vocês veem ao final do post vem lá da Revista Quatro Rodas. Nela, é apresentada a Harley Davidson Von Dutch XAVW, um exemplar das estradeiras que recebeu um motor de Fusca. Esta matéria foi escrita pelo jornalista Vitor Matsubara, este que tive o prazer de conhecer há mais ou menos sete anos atrás já representando a Quatro Rodas no Salão do Automóvel. Além de mostrar essa Harley e também um documentário sobre, é apresentada a Moto "Amazonas", uma produção nacional que usava o motor que tanto gostamos, o do Fusca.
Veja:
Von Dutch XAVW: uma Harley-Davidson com motor de VW Fusca
Projeto feito sob encomenda teve apenas uma unidade produzida de forma artesanal
Motocicleta está exposta no National Motorcycle Museum do jeito que foi encontrada (National Motorcycle Museum/Internet)
Quem conhece a história das motocicletas já deve ter ouvido falar na Amazonas, um exótico projeto brasileiro movido por motores Volkswagen. Mas ela não foi a única: a Von Dutch XAVW está aí para provar o contrário.
Antes de falar desta raríssima motocicleta é preciso saber quem foi Von Dutch. Nascido Kenny Howard, ele era um dos maiores especialistas em pinstripe, a arte de pintura à mão livre utilizada em projetos de personalização de vários tipos de veículos.
Além do talento manual, Kenny “Von Dutch” Howard também possuía um vasto conhecimento em mecânica de motos, e isso lhe ajudou a criar projetos incríveis.
Projeto foi feito sobre uma Harley-Davidson XA extensamente modificada (National Motorcycle Museum/Internet)
Um dos mais famosos foi justamente a tal Von Dutch XAVW. A base foi a Harley-Davidson XA, uma moto raríssima que teve apenas 1.000 unidades produzidas.
Movida por um motor de 740 cm3 com 23 cv a 4.500 rpm, ela rodava com desenvoltura por vários tipos de terreno – inclusive na terra. Nada mais apropriado para uma motocicleta feita para participar de atividades militares.
Quando Von Dutch adquiriu uma XA 1941 na metade dos anos 60, ele rapidamente pensou em fazer alterações. Uma delas foi a troca do conjunto frontal original por um vindo da Moto Guzzi Falcone, cuja suspensão frontal tinha um garfo telescópico invertido – uma revolução naquela época.
Presidente do National Motorcycle Museum, John Parnham posa ao lado da Von Dutch XAVW (National Motorcycle Museum/Internet)
A principal mudança, no entanto, foi feita no motor. O antigo boxer de 740 cm3 foi substituído por um motor de 1.200 cc refrigerado a ar, originalmente utilizado em modelos como Fusca e Karmann-Ghia. A potência de 34 cv pode não parecer muito nos dias atuais, mas era uma evolução e tanto frente à cavalaria do conjunto Harley-Davidson.
A adaptação não foi nada simples de ser realizada. Além de alterar largura e altura do quadro da motocicleta para acomodar um motor bem maior, Von Dutch confeccionou um adaptador para conectar motor à transmissão e encurtou o eixo cardã.
Garfo foi só uma das partes modificadas por Von Dutch na XAVW (National Motorcycle Museum/Internet)
Outras peças também foram substituídas. O tanque de combustível veio de uma Honda CB450 e o sistema de escapamento de oito polegadas feito de aço inoxidável seria originalmente da Triumph TRW.
Após pintá-la inteiramente de preto, Von Dutch exerceu sua arte e fez um belíssimo trabalho de pinstriping por toda a motocicleta. O toque final foi a colocação de um logotipo Volkswagen – só para não deixar dúvidas de que aquela não era apenas uma Harley-Davidson personalizada.
Logotipo VW colado no tanque indica que há algo de diferente nesta moto (National Motorcycle Museum/Internet)
O projeto finalmente foi concluído em 1966. Algum tempo depois, Von Dutch vendeu sua criação a Ed “Big Daddy” Ross, colega de longa data e outra lenda do pinstriping. Pouco tempo depois ela foi repassada para Randy Smith, construtor de motocicletas personalizadas, que realizou uma leve restauração na XAVW em meados dos anos 70. As informações sobre a moto, porém, pararam por aí.
O paradeiro da rara motocicleta permaneceu desconhecido até 2012, quando o restaurador Mike Wolfe (apresentador da série “Caçadores de Relíquias”, exibida no Brasil pelo canal de televisão por assinatura History Channel) foi procurado por um indivíduo do Tennessee que dizia ter a bendita XAVW.
Assim que chegou ao local, Wolfe não pensou duas vezes e adquiriu a motocicleta por US$ 21 mil. Se você achou o valor alto demais para uma moto, basta lembrar que estamos falando de um exemplar único no mundo inteiro.
Justamente por ser uma raridade é que os novos proprietários optaram por não restaurá-la, deixando-a exatamente no estado em que foi encontrada.
Hoje, a Von Dutch XAVW encontra-se exposta no National Motorcycle Museum, situado em Anamosa, no estado norte-americano de Iowa.
Bônus: Amazonas, a criação brasileira que espantou o mundo
Motocicleta utilizava motor 1.600 de Fusca e peças de vários carros (reprodução/Internet)
O brasileiro Luiz Antonio Gomi sempre tinha problemas quando saía para passear com sua Harley-Davidson. Cada passeio era uma nova dor de cabeça, e ele precisava recorrer aos amigos (principalmente seu colega José Carlos Biston), que passavam na casa de Gomi para pegar as chaves de seu VW Fusca para socorrê-lo. Foi aí que surgiu a ideia de instalar o motor Volkswagen em uma motocicleta.
Aproveitando peças de motos Harley-Davidson e Indian, Gomi e Biston adaptaram um conjunto de 1.500 cm3 de origem VW. Várias adaptações foram realizadas durante a instalação, incluindo a instalação de uma alavanca exclusivamente para a marcha a ré para não confundir o motociclista, já que as demais marchas eram trocadas como em qualquer moto.
O câmbio, que originalmente era da Brasília, foi trocado pela caixa do Gol. A embreagem era monodisco e o trambulador era comandado a cabo, tendo sido desenvolvido exclusivamente para ser utilizado no lado esquerdo da Amazonas.
Moto tinha até marcha a ré, acionada por uma alavanca exclusiva (reprodução/Internet)
A suspensão traseira, por sua vez, tinha um par de molas auxiliares paralelas às originais. Na frente, os engenheiros instalaram dois amortecedores de direção do Fusca próximos aos telescópicos dianteiros. O sistema de freios tinham dois discos de Ford Corcel na dianteira e apenas um atrás. As pinças vinham da VW Variant e o cilindro mestre era do Fusca.
Anúncio da época ressaltando as qualidades da Amazonas; moto foi fabricada até 1988 (reprodução/Internet)
A estrutura combinava pedaços dos quadros de uma Harley-Davidson e de uma Indian 1200 de 1950. Toda a parte inferior foi construída de forma artesanal e recebeu homologação do Instituto de Pesquisas Tecnológicas da USP. Já o farol retangular vinha do caminhão Mercedes-Benz 608 D. O painel de instrumentos incluía velocímetro e conta-giros vindos do Puma e uma luz vermelha se acendia quando o condutor engatava a marcha a ré.
O porte avantajado e o bom desempenho credenciavam a Amazonas à escolta policial (reprodução/Internet)
O lançamento comercial, porém, só ocorreu após a venda do projeto ao grupo Ferreira Rodrigues, em 1978. Disponível em três versões (com destaque para a Militar Luxo, uma versão voltada para uso policial que pesava 380 kg) e até com motorização movida a álcool (uma inovação para a época), a Amazonas tinha 2,32 metros de comprimento e distância entre eixos de 1,67 metro. O motor 1.5 foi trocado por um de 1,6 litro com 56 cv.
Apesar do porte avantajado, a moto era relativamente ágil, precisando de 8,7 segundos a 10,3 segundos para acelerar de 0 a 100 km/h, segundo informações da revista Moto.
Não demorou muito para a Amazonas se tornar notícia pelo mundo. A motocicleta foi exportada para vários países, como Japão, França, Suíça, Alemanha e Estados Unidos.
Moto fez sucesso e acabou exportada para Europa, Ásia e América do Norte (reprodução/Internet)
Sua produção foi encerrada em 1988 e uma série especial de apenas seis motos foi produzida no ano seguinte – uma despedida digna para um dos projetos mais ousados e inusitados já feitos no Brasil.
Fonte: Clique aqui!
Inclusive esse episódio onde os Caçadores de Relíquias acham essa Von Dutch eu assisti, os caras só faltaram chorar de emoção quando acharam a moto, e a Amazonas é de um período da nossa indústria onde com pouco nós fazíamos miséria.
ResponderExcluirExatamente. A Amazonas é uma das obras que tivemos numa fase um tanto diferente de nossa indústria.
ExcluirA Amazonas foi, guardadas as devidas proporções, nossa Harley Davidson.
ExcluirExatamente!
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