A pessoa que me refiro chamava-se Amaral Gurgel. Sem sombra de dúvidas ele foi uma das pessoas que mais fez pela indústria automobilística nacional somente pela sua genialidade e iniciativa. Enquanto montadoras unem todas as ideias de seus projetos para produzir um novo carro, Gurgel unia todos os pontos positivos de todas as montadoras para que seus carros se tornassem realidade. Carros compactos para fins urbanos, como o BR 800, nos mostravam o que viria nas próximas décadas com a acertada categoria dos compactos, o Itaipu, hoje raríssimo já trazia a tecnologia de carros elétricos em plena década de 70 e só não teve o sucesso merecido por pura falta de incentivo por parte de nossas autoridades, que aliás foi o maior motivo que levou à falência esta fantástica e diferente montadora. O Tocantins e o Carajás eram uma prévia dos SUVs que começaram a aparecer nos anos 90 e já tinham um sistema de bloqueio (muito bem descrito na matéria abaixo) totalmente mecânico que hoje teria sua equivalência (partindo do princípio do objetivo do sistema e não efetivamente do seu funcionamento) aos bloqueios eletrônicos dos 4x4 atuais.
Gurgel sem sombra de dúvidas foi um cara que fez muito pela indústria nacional, e só não fez mais porque não foi possível.
Eu poderia ficar horas aqui digitando, ainda que com pouco conhecimento sobre esses carrinhos de fibra as inúmeras vantagens que essa indústria nos trouxe no século passado.
A matéria que trago hoje para vocês foi publicada no mês passado pela Revista Quatro Rodas. Esta série "Grandes Brasileiros" retrata carros nacionais que tivemos nas décadas passadas, descrevendo um pouco sobre cada modelo. O assunto de hoje é um dos modelos Gurgel, o Tocantins, valente jipinho com a maravilhosa mecânica VW a ar. Esse carro tem algumas características que, particularmente me agradam: Além do bloqueio que é muito bem descrito na matéria e eu já citei acima, ele tem um "casamento" entre motor e câmbio nunca adotado originalmente pela VW e que trouxe uma boa pegada para o carrinho fora do asfalto, que foi o motor 1600 (ainda com carburação simples) com o câmbio 8X35, do Fusca 1300. Desta forma, o carro teria uma arrancada um pouco melhor do que com o câmbio mais longo, o que facilitaria subir uma ladeira íngreme, por exemplo. Além disso, o carrinho oferecia 10 mkgf a 2400 rpm, rotação fácil de se alcançar dada a relação curta de marchas.
Esta matéria é mais do que descritiva e explicará tudo sobre o carro. Com certeza vale a leitura.
Preparem os babadores e protejam os teclados!
Grandes Brasileiros: Gurgel Tocantins
Evolução do renomado X-12 o Tocantins reuniu o carisma da marca a um perfil urbano e civilizado
Teto podia ser de lona ou rígido | Crédito: Marco de Bari
Nascia a amizade que culminaria com uma parceria de sucesso, dez anos depois: produzido pela Macan Ltda., o Gurgel 1200 estrelava o Salão do Automóvel de 1966 com chassi e motor VW, nas versões Ipanema, Xavante e Enseada, esta última exibida no próprio estande da VW. Era um conversível recreativo de quatro lugares, ideal para o lazer.
Dos três, só o Xavante prosperou: tornou-se um fora de estrada semelhante ao Porsche 597 Jagdwagen, substituindo o chassi VW por outro de fabricação própria, em Plasteel, um aço revestido de fibra de vidro. Rebatizado como X-12, foi exportado para vários países, firmando o nome Gurgel como sinônimo de jipinho valente que topava qualquer aventura.
O primogênito do engenheiro João Gurgel voltaria a brilhar em 1988: rebatizado Tocantins, ele ganhou nova dianteira com faróis retangulares e uma cabine estendida até o fim da carroceria. Os 20 cm a mais garantiam melhor espaço para os passageiros, mas eliminavam o galão de combustível e o filtro de ar externos, marcas registradas do X-12.
Permaneciam as versões L (teto de lona) e TR (teto rígido), sendo que esta última eliminava a tradicional claraboia de ventilação no teto em favor de um bagageiro. Outra novidade eram as belas maçanetas externas do Fiat Prêmio CSL. No interior, poucas mudanças: o painel manteve os instrumentos do Fusca, mas trocou os comandos do Fiat 147 pelos do Gol.
Os comandos internos são do Gol, com instrumentos de Fusca | Crédito: Marco de Bari
A valentia no fora de estrada era mantida, graças ao elevado vão livre do solo, bons ângulos de entrada e saída e a presença do sistema Selectraction, que atuava como bloqueio seletivo das rodas traseiras (na prática, era um freio de mão que travava a roda de tração que girava solta). O trem de força mantinha o velho e confiável motor VW 1600 refrigerado a ar, atrelado ao câmbio de relações curtas do Fusca 1300.
Era nítida a intenção de agradar um público urbano, que via no pequeno Gurgel uma boa opção de carro descolado e fácil de dirigir. Para conter o comportamento arisco no asfalto, a suspensão dianteira recebeu barra estabilizadora e a carga das molas traseiras foi revista, melhorando o contato dos pneus com o solo.
Segunda geração do X-12, o Tocantins tem cabine 20 cm maior | Crédito: Marco de Bari
Debilitada financeiramente após o fracasso do BR-800, a Gurgel pediu concordata em 1993. Ao todo, 3 837 unidades do Tocantins deixaram a fábrica de Rio Claro (SP) até o encerramento das atividades em 1995. O jipinho não deixou sucessor e ainda hoje é visto em atividade, na dureza do trabalho ou no lazer de entusiastas que preservam sua história.
Fonte: Clique aqui!
Mais triste do que o fim da fábrica da Gurgel, foi o fim do próprio Gurgel, morreu de Mal de Alzheimer sem sequer ter a consciência de quem ele foi e representou para a indústria automobilística brasileira.
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